À medida que a tecnologia avança, a diferenciação residirá no valor humano, na excelência linguística e na confiança.
Já não é surpresa para ninguém: com o avanço da inteligência artificial, o setor da tradução está a passar por uma transformação sem precedentes. Esta situação é suscetível de fazer soar o alarme para muitos:
O que é que o futuro reserva à tradução?
Para esclarecer esta questão, a Okodia translations, uma agência líder no setor da tradução, teve a honra de acolher no seu podcast Dándole a la Lengua. Un podcast (no solo) de traducción [Dar à Língua – Um podcast de tradução (e não só)], com profissionais de empresas que discutem o panorama atual da tradução e a forma como o equilíbrio entre a automatização e a qualidade humana irá moldar o futuro do setor.
Este é o panorama atual da tradução
Os especialistas definem o panorama atual da tradução com três adjetivos básicos: “desafiante”, “equilibrado” e “incerto”. Luis Rodríguez, CEO da agência de tradução, salienta que “as novas tecnologias, acima de tudo, estão a tornar difícil conhecê-las, utilizá-las no dia a dia, geri-las, incluí-las…”.

Ao mesmo tempo, estamos num momento crítico em que é preciso “fazer o ponto de situação” e refletir sobre a forma de equilibrar “a inteligência artificial com o mundo da tradução”, defende Alessandra Pilieri, uma das gestoras de projetos comerciais. No entanto, a incerteza também domina no setor, uma vez que os tradutores freelance “deitaram a toalha ao chão, o seu trabalho diminuiu muito, as ofertas que recebem são mais para pós-edição do que para tradução humana…”, diz Scheherezade Surià, tradutora de marketing e textos gerais na empresa de tradução.
Os desafios que o setor da tradução enfrenta
A irrupção da inteligência artificial trouxe, sem dúvida, novos desafios para os profissionais do setor da tradução.
Nas palavras de Luis Rodríguez, o principal desafio num ambiente em que a tradução automática está a ganhar protagonismo consiste em “oferecer o melhor serviço, a melhor qualidade e, ao mesmo tempo, fazer compreender que a tradução vai para além da tradução automática, embora tenhamos de nos habituar ao cenário em que nos encontramos”. No final, trata-se de uma necessidade imperativa, uma vez que a inteligência artificial “marca o ritmo para outras empresas, essas empresas marcam o ritmo para si e nós marcamos o ritmo para as pessoas que trabalham na empresa”, explica.
A boa notícia é que tudo acaba por se resolver. Os especialistas salientam que conseguem “fazer milagres” perante as exigências de urgência e prazos constantes, porque todos os projetos “são para ontem”, brincam. Além disso, em casos como este, manter uma “comunicação fluida entre cliente e tradutor” é também uma conquista, salienta Alessandra Pilieri.

Como está a evoluir o setor da tradução?
Em termos de evolução do setor, existem duas vertentes. Por um lado, há o cliente que pede diretamente revisões de traduções com IA, “há alguns anos, quase não nos falavam disso e agora é raro que um novo cliente não o faça”, diz Irene, gestora de vendas. “Mas, claro, não é a mesma coisa. Demora muito mais tempo do que se fosse uma tradução humana. E também não é a mesma coisa se for do nosso próprio motor de tradução, porque se já estamos habituado a uma ferramenta, sabemos reconhecer os defeitos”, afirma.
Depois, há o lado mais otimista, que é o dos que experimentam a IA e voltam a procurar a qualidade humana depois de constatarem as limitações da automatização. “É quando já experimentámos um pouco que nos deparamos com a realidade e vemos que nos falta algo mais e que podemos criar problemas”, frisa Scheherezade Surià. Além disso, em setores críticos como a medicina, os clientes continuam a exigir traduções e revisões humanas devido aos riscos que qualquer erro pode acarretar. “Os clientes estão bastante familiarizados com o mundo da tradução e valorizam-no”, afirma Sonia Herrero, gestora de projetos médicos.
A diferenciação na era tecnológica
A chave para se destacar é, nas palavras dos especialistas, considerar que “os clientes não são números, mas os tradutores também não”, e transmitir “confiança e transparência nos processos”. Outro fator importante é a procura da excelência. Trata-se de “procurar níveis muito elevados de tradução, porque é fácil encontrar níveis baixos de tradução, mas é mais complicado encontrar níveis elevados de tradução”, afirma Luis Rodríguez.
E para o conseguir, Sonia Herrero defende que “não se trata apenas de tentar manter o cliente o mais satisfeito possível. É o cliente, mas é também a qualidade da tradução, a qualidade da comunicação e também a relação com o tradutor (…). É procurar o melhor para todas as partes em todas as fases do processo“.
Perspetivas e ambições para o futuro
Apesar do impacto da inteligência artificial, os especialistas estão confiantes de que o setor encontrará um equilíbrio. “Penso que tudo se vai estabilizar. No fim de contas, a tradução automática já existe há muitos anos. É verdade que os motores estão a ficar cada vez melhores, mas sempre existiram e sempre houve necessidade de traduções humanas. O iPhone também foi lançado no seu tempo, revolucionou o mercado dos telemóveis e agora estabilizou,” afirma Luis Rodríguez.
Dito isto, incentivamos a definição de objetivos ambiciosos e a continuação da procura da excelência: “Se nos contentarmos com pouco, nunca chegaremos a esse pouco, vamos relaxar porque é algo que podemos facilmente alcançar. Por outro lado, se estabelecermos um objetivo mais ambicioso, mais distante, mais difícil, daremos muito mais para o alcançar”, conclui Luis Rodríguez.